

Os muitos engajamentos do Concurso
de portas da Festa Junina


Os muitos engajamentos do Concurso
de portas da Festa Junina

05 de Agosto de 2024
Joana Pinho dos Santos
Em meio à correria do dia a dia, deparei-me com um papel, colado por praticamente todas as salas da escola, indicando um concurso de decoração de portas.
Quase todas as professoras de arte fogem do estigma da decoração, que reduz a experiência da área do conhecimento à ação restrita a datas comemorativas. No informe constava que haveria um concurso de decoração de portas com o tema “Festa Junina”.
Cada turma ficaria responsável pela decoração de parte da porta de cada sala, já que em nossa Escola, as salas são ocupadas nos dois turnos. Além disso, havia também a indicação de que as turmas vencedoras ganhariam um prêmio, que poderia ser, a escolha da turma, um almoço especial ou um passeio; e de que haveria uma pontuação no bimestre pela participação no concurso.
Logo que li o informe, fiquei receosa quanto às mudanças que teria que fazer no meu planejamento para atender aos conteúdos básicos da Rede Pública Municipal de Ensino de Maricá, já que atuo com os 6º, 7º, 9º anos e PAE.
Da mesma forma, desconfiei que a decoração cairia totalmente sob minha responsabilidade, mas, ao contrário das minhas expectativas iniciais, o concurso de portas me ensinou sobre possibilidade de uma educação engajada, nos moldes que Bell Hooks pensou e escreveu sobre no livro "Ensinando a Transgredir".
Este texto conta um pouco sobre alguns percursos pedagógicos utilizados pelas turmas do Programa de Aceleração de Estudos (PAE), que têm como objetivo proporcionar aos alunos que apresentam distorção idade/ano de escolaridade e demonstram dificuldades de aprendizagem com as metodologias do ensino regular, novas possibilidades de aprendizagem. Nesta visão, o Programa busca utilizar estratégias metodológicas diferenciadas para trabalhar os conteúdos de uma outra forma, levando em consideração a história de vida e análise global dos sujeitos nele inseridos.
Traremos duas experiências destas narrativas que estão sendo escritas, a partir de trabalho de campo por Inoã. A primeira é uma proposta de escrita de um jornal e a segunda, se refere a vivência nos espaços e a transformação destes achados, utilizando atividades de letramento e alfabetização.
Neste ano letivo, foram formadas duas turmas de aceleração, sendo estas: a PAE 21 com 23 alunos, que ainda não consolidaram o processo de alfabetização e a PAE 22 com 18 alunos, que começaram o processo de leitura, mas ainda precisam desenvolver competências e habilidades básicas para o uso social da escrita, e além da ampliação dos saberes de todas as disciplinas.

Fotografia de autoria da
Professora Yasmin Viana,
a primeira versão da porta da Turma 615.
O primeiro engajamento diz respeito à organização do concurso. A professora Bárbara, docente de arte, teve um papel fundamental na estruturação, considerando os critérios e como o concurso se desenrolaria; na divulgação, junto à comunidade escolar; na execução, fazendo com que as etapas anteriores e posteriores à votação acontecessem; na votação propriamente dita; e no pós-evento.
O segundo engajamento crucial para que o concurso acontecesse veio a partir das/os estudantes. Obviamente, a possibilidade de uma premiação contou bastante a favor, mas assumi junto às minhas turmas a postura de dar total liberdade para as ideias organizadas por elas/eles.
Minha função seria restrita ao apoio para obter os materiais necessários para confecção das portas; ou suporte secundário nas execuções, como fazer linhas retas, cortar moldes, misturar tintas: o protagonismo era da turma, assim como todo o esforço manual para viabilizar as portas. Eventualmente, a pedido, fiz algumas sugestões, mas sempre no sentido de ampliar as ideias propostas como meu conhecimento técnico.
Este texto conta um pouco sobre alguns percursos pedagógicos utilizados pelas turmas do Programa de Aceleração de Estudos (PAE), que têm como objetivo proporcionar aos alunos que apresentam distorção idade/ano de escolaridade e demonstram dificuldades de aprendizagem com as metodologias do ensino regular, novas possibilidades de aprendizagem. Nesta visão, o Programa busca utilizar estratégias metodológicas diferenciadas para trabalhar os conteúdos de uma outra forma, levando em consideração a história de vida e análise global dos sujeitos nele inseridos.
Traremos duas experiências destas narrativas que estão sendo escritas, a partir de trabalho de campo por Inoã. A primeira é uma proposta de escrita de um jornal e a segunda, se refere a vivência nos espaços e a transformação destes achados, utilizando atividades de letramento e alfabetização.
Neste ano letivo, foram formadas duas turmas de aceleração, sendo estas: a PAE 21 com 23 alunos, que ainda não consolidaram o processo de alfabetização e a PAE 22 com 18 alunos, que começaram o processo de leitura, mas ainda precisam desenvolver competências e habilidades básicas para o uso social da escrita, e além da ampliação dos saberes de todas as disciplinas.
As duas portas ganhadoras foram das turmas 615, do turno da manhã, e PAE 21, do turno da tarde. Quanto à 615, tive pouquíssima influência no processo de confecção da porta. Basicamente, dei algum suporte na organização do que cada uma/um faria de acordo com a quantidade de dias disponíveis de aulas de arte até a data final de apresentação da porta.
A professora Tatiana Ramos, professora agente de inclusão de uma estudante da turma, construiu um belíssimo trabalho de autoestima com as/os estudantes e dando todo o suporte material e emocional necessário.
A relação da professora Tatiana com a turma começou a partir da construção de uma rede de respeito, autorresponsabilidade e afeto com a estudante em questão que, logo, se expandiu a turma, tornando-se referência dentro de sala de aula e também tomando espaço fora dela. Nesta turma, tivemos mais de uma versão da porta: uma feita inicialmente e outra refeita, a partir de mais detalhes e novas referências.
A ideia da professora Tatiana de confeccionar bandeirinhas decoradas pelas/pelos estudantes, e organizar todo o material para isso, foi acrescida ao desenho refeito da porta e, provavelmente, foi um dos elementos que impactou na escolha dessa porta como vencedora do turno da manhã.
Este texto conta um pouco sobre alguns percursos pedagógicos utilizados pelas turmas do Programa de Aceleração de Estudos (PAE), que têm como objetivo proporcionar aos alunos que apresentam distorção idade/ano de escolaridade e demonstram dificuldades de aprendizagem com as metodologias do ensino regular, novas possibilidades de aprendizagem. Nesta visão, o Programa busca utilizar estratégias metodológicas diferenciadas para trabalhar os conteúdos de uma outra forma, levando em consideração a história de vida e análise global dos sujeitos nele inseridos.
Traremos duas experiências destas narrativas que estão sendo escritas, a partir de trabalho de campo por Inoã. A primeira é uma proposta de escrita de um jornal e a segunda, se refere a vivência nos espaços e a transformação destes achados, utilizando atividades de letramento e alfabetização.
Neste ano letivo, foram formadas duas turmas de aceleração, sendo estas: a PAE 21 com 23 alunos, que ainda não consolidaram o processo de alfabetização e a PAE 22 com 18 alunos, que começaram o processo de leitura, mas ainda precisam desenvolver competências e habilidades básicas para o uso social da escrita, e além da ampliação dos saberes de todas as disciplinas.
Em meio à correria do dia a dia, deparei-me com um papel, colado por praticamente todas as salas da escola, indicando um concurso de decoração de portas.
Quase todas as professoras de arte fogem do estigma da decoração, que reduz a experiência da área do conhecimento à ação restrita a datas comemorativas. No informe constava que haveria um concurso de decoração de portas com o tema “Festa Junina”.
Cada turma ficaria responsável pela decoração de parte da porta de cada sala, já que em nossa Escola, as salas são ocupadas nos dois turnos. Além disso, havia também a indicação de que as turmas vencedoras ganhariam um prêmio, que poderia ser, a escolha da turma, um almoço especial ou um passeio; e de que haveria uma pontuação no bimestre pela participação no concurso.
Logo que li o informe, fiquei receosa quanto às mudanças que teria que fazer no meu planejamento para atender aos conteúdos básicos da Rede Pública Municipal de Ensino de Maricá, já que atuo com os 6º, 7º, 9º anos e PAE.
Da mesma forma, desconfiei que a decoração cairia totalmente sob minha responsabilidade, mas, ao contrário das minhas expectativas iniciais, o concurso de portas me ensinou sobre possibilidade de uma educação engajada, nos moldes que Bell Hooks pensou e escreveu sobre no livro "Ensinando a Transgredir".
Engajamentos
O primeiro engajamento diz respeito à organização do concurso. A professora Bárbara, docente de arte, teve um papel fundamental na estruturação, considerando os critérios e como o concurso se desenrolaria; na divulgação, junto à comunidade escolar; na execução, fazendo com que as etapas anteriores e posteriores à votação acontecessem; na votação propriamente dita; e no pós-evento.
O segundo engajamento crucial para que o concurso acontecesse veio a partir das/os estudantes. Obviamente, a possibilidade de uma premiação contou bastante a favor, mas assumi junto às minhas turmas a postura de dar total liberdade para as ideias organizadas por elas/eles.
Minha função seria restrita ao apoio para obter os materiais necessários para confecção das portas; ou suporte secundário nas execuções, como fazer linhas retas, cortar moldes, misturar tintas: o protagonismo era da turma, assim como todo o esforço manual para viabilizar as portas. Eventualmente, a pedido, fiz algumas sugestões, mas sempre no sentido de ampliar as ideias propostas como meu conhecimento técnico.
A trajetória da Turma 615
As duas portas ganhadoras foram das turmas 615, do turno da manhã, e PAE 21, do turno da tarde. Quanto à 615, tive pouquíssima influência no processo de confecção da porta. Basicamente, dei algum suporte na organização do que cada uma/um faria de acordo com a quantidade de dias disponíveis de aulas de arte até a data final de apresentação da porta.
A professora Tatiana Ramos, professora agente de inclusão de uma estudante da turma, construiu um belíssimo trabalho de autoestima com as/os estudantes e dando todo o suporte material e emocional necessário.
A relação da professora Tatiana com a turma começou a partir da construção de uma rede de respeito, autorresponsabilidade e afeto com a estudante em questão que, logo, se expandiu a turma, tornando-se referência dentro de sala de aula e também tomando espaço fora dela. Nesta turma, tivemos mais de uma versão da porta: uma feita inicialmente e outra refeita, a partir de mais detalhes e novas referências.
A ideia da professora Tatiana de confeccionar bandeirinhas decoradas pelas/pelos estudantes, e organizar todo o material para isso, foi acrescida ao desenho refeito da porta e, provavelmente, foi um dos elementos que impactou na escolha dessa porta como vencedora do turno da manhã.
Engajamentos
A trajetória do PAE 21
Reformulações
Reflexões sobre os resultados obtidos

Colagem realizada pelo
estudante da PAE21.
A trajetória da Turma 615

Fotografia de autoria da Professora Tatiana Ramos durante a realização da segunda versão da porta da Turma 615.
A Segunda Experiência
A trajetória do PAE 21
Já na porta ganhadora do turno da tarde, tive uma atuação um pouco mais próxima. A turma do PAE 21 tem como característica ser composta por um grupo de estudantes que necessita de um olhar mais atento, paciente, flexível e afetuoso, já que muitas/muitos estudantes vêm de processos recorrentes de retenções nos anos escolares anteriores. Toda a confecção da porta foi marcada pelas escolhas livres das/os estudantes em questão.
Na ocasião do primeiro contato, em que houve a sensibilização para o concurso, expliquei o processo, as regras de participação, a premiação e questionei se gostariam de participar, como fiz com todas as minhas turmas. Naquele contexto, a maioria concordou e seguimos para a organização do projeto, todo pensado com e pela turma, basicamente.
Algumas ideias iniciais foram tomando forma. A turma, composta majoritariamente por meninos negros amantes de futebol, optou por homenagear uns de seus ídolos na porta: Neymar e Vini Junior. A ideia, assim, se transformou em uma representação de Neymar e Vini, vestidos à caráter, para a Festa Junina do PAE21.
Em certo momento, parte dos estudantes considerou também incluir uma homenagem a Pelé, já que este é o Rei do Futebol. A turma concordou. Não intervim, ou pretendia não intervir, na escolha, mas questionei qual a relevância dos atletas na vida deles, tendo em vista também suas condutas fora de campo. Nesse momento, a homenagem a Neymar perdeu adeptos.
A definição da técnica utilizada foi também a critério da turma, pois entenderam que seria mais fácil fazer uma colagem digital por algum aplicativo de celular com imagens da internet. Concordei! Um estudante, o Yan, disse que conseguiria fazer e afirmou que não seria muito fácil uma colagem com tantos elementos. A ideia foi simplificada. Assim, a turma definiu: uma colagem com Vini Junior e Pelé com chapéu de festa junina. Todos os demais elementos referentes a uma festa junina ou à identificação da turma seriam feitos a partir de uma colagem física.
Minha função, até esse momento, foi mediar as escolhas, apresentar possibilidades para colocar a ideia em prática e organizar o que cada um poderia trazer e fazer, de acordo com suas possibilidades. Não limitei as ideias postas, apenas mostrei possibilidades de ampliá-las. Naquele dia, todos os estudantes saíram de sala sabendo suas funções e o que deveriam trazer para as próximas semanas, inclusive eu, que também fiquei responsável por trazer alguns materiais.


Reformulações
Já na porta ganhadora do turno da tarde, tive uma atuação um pouco mais próxima. A turma do PAE 21 tem como característica ser composta por um grupo de estudantes que necessita de um olhar mais atento, paciente, flexível e afetuoso, já que muitas/muitos estudantes vêm de processos recorrentes de retenções nos anos escolares anteriores. Toda a confecção da porta foi marcada pelas escolhas livres das/os estudantes em questão.
Na ocasião do primeiro contato, em que houve a sensibilização para o concurso, expliquei o processo, as regras de participação, a premiação e questionei se gostariam de participar, como fiz com todas as minhas turmas. Naquele contexto, a maioria concordou e seguimos para a organização do projeto, todo pensado com e pela turma, basicamente.
Algumas ideias iniciais foram tomando forma. A turma, composta majoritariamente por meninos negros amantes de futebol, optou por homenagear uns de seus ídolos na porta: Neymar e Vini Junior. A ideia, assim, se transformou em uma representação de Neymar e Vini, vestidos à caráter, para a Festa Junina do PAE21.
Em certo momento, parte dos estudantes considerou também incluir uma homenagem a Pelé, já que este é o Rei do Futebol. A turma concordou. Não intervim, ou pretendia não intervir, na escolha, mas questionei qual a relevância dos atletas na vida deles, tendo em vista também suas condutas fora de campo. Nesse momento, a homenagem a Neymar perdeu adeptos.
A definição da técnica utilizada foi também a critério da turma, pois entenderam que seria mais fácil fazer uma colagem digital por algum aplicativo de celular com imagens da internet. Concordei! Um estudante, o Yan, disse que conseguiria fazer e afirmou que não seria muito fácil uma colagem com tantos elementos. A ideia foi simplificada. Assim, a turma definiu: uma colagem com Vini Junior e Pelé com chapéu de festa junina. Todos os demais elementos referentes a uma festa junina ou à identificação da turma seriam feitos a partir de uma colagem física.
Minha função, até esse momento, foi mediar as escolhas, apresentar possibilidades para colocar a ideia em prática e organizar o que cada um poderia trazer e fazer, de acordo com suas possibilidades. Não limitei as ideias postas, apenas mostrei possibilidades de ampliá-las. Naquele dia, todos os estudantes saíram de sala sabendo suas funções e o que deveriam trazer para as próximas semanas, inclusive eu, que também fiquei responsável por trazer alguns materiais.
Nas semanas seguintes, a ideia precisou ser reformulada algumas vezes, já que parte dos combinados quanto aos materiais não foram cumpridos por parte dos estudantes. Dois pontos chamaram a atenção nessas reformulações. O primeiro deles foi a resistência do estudante que faria a colagem digital em mostrar seu trabalho finalizado. Inicialmente, Yan afirmou não ter feito.
Depois de muita insistência da minha parte e da afirmação de um outro colega, o Weverton, de que Yan teria feito, mas não estava com coragem de mostrar, ele, finalmente, mostrou a colagem em seu celular: Vini Junior, com reflexo de Pelé em um espelho com chapéu de palha. Parabenizei o trabalho. Ficou realmente muito bom e superou minhas expectativas. A turma também o parabenizou. Tivemos sorte por insistir e mais ainda do Weverton ter afirmado que ele fez!
Outro ponto que exigiu uma mudança de postura da minha parte, foi a escolha de um estudante da turma para supervisionar as funções de cada um, o Yudi. O estudante em questão aparecia pouco nas minhas aulas, não tínhamos uma relação muito próxima.
Por insistência do professor de referência da turma, Francisco Alves, que realiza um trabalho muito paciente de valorização das potencialidades de cada um das/dos estudantes, Yudi permaneceu em sala e mais aberto a interações comigo, e o mesmo ocorreu da minha parte. Entendi que ele tinha um potencial de liderança na turma, e tinha habilidade em gerenciar e supervisionar as ações. Ele ficou responsável por delegar funções, cobrar ações, estimular as/os colegas. E Yudi, de fato, gostou das funções, já que, durante o processo, disse que só não havia faltado à aula em uma semana específica, pois sabia que tinha que terminar a porta.
Nas semanas que seguiram, cada estudante realizava uma função pendente: desenhar a fogueira, pintar, cobrir, recortar papel, colar, escrever, organizar os desenhos, definir a ordem. Todos supervisionados por Yudi. Todas/todos sabiam o que deveriam fazer e quanto tempo ainda teriam disponível. E essa organização seguiu nas minhas e nas aulas de outras/outros professoras/professores. Minha função era dar suporte técnico. Eventualmente, executar alguma função secundária e, ao final da minha aula, guardar o cartaz com apoio do estudante supervisor.
Reflexões sobre os resultados obtidos



A Segunda Experiência
Precisamos educar para compreensão. E isso significa não educar “para o futuro”, mas para as demandas do presente, um ensino da interpretação como parte central do currículo que foque na reflexão crítica das representações da escola como geradora de cultura, e não só de aprendizagem de conteúdo.
Começamos refletindo que o lugar da sala não: é só de aula. O diálogo deve ser central antes de qualquer proposta de atividade. Na exposição oral e no diálogo com os estudantes, não devem ser ignoradas suas questões e interações “próprias”, mesmo que não tenham relação direta com o conteúdo curricular. A sala é de produção de conhecimento e de interpretação do mundo, o conteúdo curricular é apenas um meio, e não objetivo final. Algumas questões são fundamentais: Qual objetivo de aprendizagem da sua aula? Qual é seu tema transversal? E eles podem se tornar um grande motivador para construção de aprendizagem, crescimento pessoal e intelectual dos alunos?
E como trabalhar as práticas pedagógicas de modo a propiciar a sala de aula como este espaço multidisciplinar, atrativo, afetivo e de forma a recuperar o prazer pelo estudo/desempenho dos conteúdos acumulados historicamente? Algumas intervenções seriam atividades que possibilitem: viabilizar produções artesanais, coletivas e lúdicas, uma escola geradora de cultura, e não só de aprendizagem de conteúdos, aproveitar o interesse das crianças e adolescentes (conjunto de valores, crenças e significações que dão sentido ao mundo em que vivem), estimular experimentações, formas, texturas, sons, participação ativa e coletiva, jogos, artes e demonstrações que utilizem o corpo como suporte (corpo como um todo, sem separação mente e corpo) em diversas performances.
O lugar fora da sala escolhido para ser retratado aqui foi o trabalho de campo feito nos arredores da escola para que os alunos conhecessem um pouco mais da realidade de Inoã. Foi utilizada uma pesquisa etnográfica, a partir dos debates gerados nas aulas, em entrevistas dentro e fora da escola. Isso permitiu que os alunos refletissem e reconhecessem diferentes pontos de vista acerca do tema.
Foi seguida a ordem abaixo:
Passo 1 - saída à campo pela comunidade do entorno para pesquisá-la. Conhecer o universo vocabular das pessoas entrevistando-as. Gravar as palavras que aparecem mais. Anotar os temas geradores: Quais são as questões, o que mais está preocupando e ocupando a mente das pessoas na comunidade? Sair pela comunidade e gravar as palavras que aparecem mais: O que é importante para você? O que está te preocupando atualmente?
Passo 2 - Tirar fotos e filmar a paisagem do lugar da comunidade escolar e do seu entorno: natureza, prédio, comércios, etc. Investigar também a paisagem oculta.
Passo 3 - Investigar os nomes das ruas do território, dos lugares próximos e da própria escola.


Da articulação de todos esses engajamentos, houve um saldo proveitoso para a Escola. Mais do que a atenção aos conteúdos básicos, envolvida/do na realização das atividades. Cada uma/um com seus conhecimentos, entendendo em que poderia colaborar para a atividade coletiva. Esperava que elas/eles assumissem as responsabilidades sobre as realizações das portas, fato que ocorreu. Do mesmo modo, suas expressões, materializadas nas ideias e fazeres, foram valorizadas.
O engajamento das/dos estudantes foi crucial para a realização do concurso, e esse engajamento possibilitou outros engajamentos, como das/dos profissionais da educação da Escola.
Desse processo, não apenas as/os estudantes saíram fortalecidas/dos, por se perceberem necessárias/os para a confecção das portas, e capacitadas/dos, já que perpassam alguns saberes comuns à área do conhecimento Arte.
A Escola também se fortaleceu, já que, durante o período do Concurso, as/os próprias/os estudantes zelaram pela manutenção da decoração e tornaram-se atentas/os e cuidadosas/os quanto a isso.
Saiu ganhando a Escola, dentro do possível, já que percebemos pistas de quais caminhos empreender para que as/os estudantes se sintam valorizadas/dos e responsáveis por aquele ambiente. E por que não também vislumbrar que elas/es se entendam, a longo prazo, responsáveis por seus processos de aprendizado?


Eixo IV – Sociedade, Cultura e Tecnologia
As práticas ativas de ensino nos eixos da educação integral oferecem aos alunos uma gama de oportunidades de aprendizagem. Os alunos são preparados para os desafios futuros quando desenvolvem habilidades como pensamentos críticos, resolução de problemas, colaboração e comunicação.
A Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro ao adotar o programa de educação em tempo integral desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos alunos, proporcionando uma abordagem educacional abrangente que visa não apenas o sucesso acadêmico, mas também o desenvolvimento pessoal e socioemocional. Ao promover um ambiente de aprendizagem estimulante e envolvente, a educação integral prepara os alunos para enfrentar os desafios do mundo moderno.
Na oficina de tecnologia também são desenvolvidos podcasts escolares, onde alunos e convidados produzem conteúdos e são desafiados a criarem roteiros e narrarem as histórias de forma semanal. O objetivo é que além de produção de tecnologia, que os alunos trabalhem a funcionalidade do texto e imagem como forma de comunicação com a comunidade escolar e com o mundo.
Nas semanas seguintes, a ideia precisou ser reformulada algumas vezes, já que parte dos combinados quanto aos materiais não foram cumpridos por parte dos estudantes. Dois pontos chamaram a atenção nessas reformulações. O primeiro deles foi a resistência do estudante que faria a colagem digital em mostrar seu trabalho finalizado. Inicialmente, Yan afirmou não ter feito.
Depois de muita insistência da minha parte e da afirmação de um outro colega, o Weverton, de que Yan teria feito, mas não estava com coragem de mostrar, ele, finalmente, mostrou a colagem em seu celular: Vini Junior, com reflexo de Pelé em um espelho com chapéu de palha. Parabenizei o trabalho. Ficou realmente muito bom e superou minhas expectativas. A turma também o parabenizou. Tivemos sorte por insistir e mais ainda do Weverton ter afirmado que ele fez!
Outro ponto que exigiu uma mudança de postura da minha parte, foi a escolha de um estudante da turma para supervisionar as funções de cada um, o Yudi. O estudante em questão aparecia pouco nas minhas aulas, não tínhamos uma relação muito próxima.
Por insistência do professor de referência da turma, Francisco Alves, que realiza um trabalho muito paciente de valorização das potencialidades de cada um das/dos estudantes, Yudi permaneceu em sala e mais aberto a interações comigo, e o mesmo ocorreu da minha parte. Entendi que ele tinha um potencial de liderança na turma, e tinha habilidade em gerenciar e supervisionar as ações. Ele ficou responsável por delegar funções, cobrar ações, estimular as/os colegas. E Yudi, de fato, gostou das funções, já que, durante o processo, disse que só não havia faltado à aula em uma semana específica, pois sabia que tinha que terminar a porta.
Nas semanas que seguiram, cada estudante realizava uma função pendente: desenhar a fogueira, pintar, cobrir, recortar papel, colar, escrever, organizar os desenhos, definir a ordem. Todos supervisionados por Yudi. Todas/todos sabiam o que deveriam fazer e quanto tempo ainda teriam disponível. E essa organização seguiu nas minhas e nas aulas de outras/outros professoras/professores. Minha função era dar suporte técnico. Eventualmente, executar alguma função secundária e, ao final da minha aula, guardar o cartaz com apoio do estudante supervisor.

Fotografia de autoria da
Professora Yasmin Viana,
a primeira versão da porta da Turma 615.
Fotografia de autoria da Professora Tatiana Ramos durante a realização da segunda versão da porta da Turma 615.


Colagem realizada pelo estudante do PAE21.




