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Sensação de pertencimento

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Sensação de pertencimento

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04 de dezembro de 2024

Fabiano Nogueira

Professor de Língua Portuguesa

Este texto conta um pouco sobre alguns percursos pedagógicos utilizados pelas turmas do Programa de Aceleração de Estudos (PAE), que têm como objetivo proporcionar aos alunos que apresentam distorção idade/ano de escolaridade e demonstram dificuldades de aprendizagem com as metodologias do ensino regular, novas possibilidades de aprendizagem. Nesta visão, o Programa busca utilizar estratégias metodológicas diferenciadas para trabalhar os conteúdos de uma outra forma, levando em consideração a história de vida e análise global dos sujeitos nele inseridos.

Traremos duas experiências destas narrativas que estão sendo escritas, a partir de trabalho de campo por Inoã. A primeira é uma proposta de escrita de um jornal e a segunda, se refere a vivência nos espaços e a transformação destes achados, utilizando atividades de letramento e alfabetização.

Neste ano letivo, foram formadas duas turmas de aceleração, sendo estas: a PAE 21 com 23 alunos, que ainda não consolidaram o processo de alfabetização e a PAE 22 com 18 alunos, que começaram o processo de leitura, mas ainda precisam desenvolver competências e habilidades básicas para o uso social da escrita, e além da ampliação dos saberes de todas as disciplinas.

Eu sou o professor Fabiano Nogueira e lecionei, neste ano letivo, as disciplinas de Português e Produção Textual na Escola Professor Darcy Ribeiro, em Inoã. Esta é a primeira escola em que trabalho no município desde que passei no concurso há cinco anos.

Nas aulas de produção textual comecei perguntando aos alunos sobre suas memórias em relação ao lugar. E obtive algumas respostas que inclusive me surpreenderam. Uma boa parte dos alunos não havia nascido em Inoã; outra parte não morava em Inoã; e, de ambas as partes, alguns alunos não possuíam boas memórias relativas ao lugar. Mesmo quando perguntei se algumas boas memórias não foram construídas na escola. O adjetivo “boas” para eles não se associa a escola.

 

Os dois primeiros grupos (os que não nasceram e os que não moravam) são compreensíveis. Em outros anos tive nas turmas alunos cujas famílias migraram de outras cidades do Rio de Janeiro, principalmente da Baixada Fluminense. E como Inoã se localiza na divisa com São Gonçalo, há alguns alunos que moram neste município mas vão estudar em Maricá.

 

Percebi então que meu desafio já começava com esta questão: como desenvolver o trabalho de narrativas do bairro se os alunos não pertenciam a ele? Resolvi partir de outro ponto:  se o que interessa é a relação do sujeito-aluno com o espaço a que pertence, primeiro quero conhecer esse sujeito.

 

Assim foi no decorrer do ano. Trabalhei com gêneros textuais que me proporcionariam a busca por conhecimento do meu aluno e autoconhecimento. Os primeiros gêneros trabalhados foram a biografia e a autobiografia.

Em seguida, trabalhamos com crônica e, por último, com entrevista.

 

Através das autobiografias pude perceber a relação dos meus alunos com suas memórias. Começamos com narrativas de pequenos momentos emocionantes de suas vidas para depois partir para episódios mais longos. Embora tenha sido um pouco difícil a compreensão do que é a narrativa de suas breves vidas, alguns episódios relatados foram bem curiosos, pois a maior parte deles se referia a algum momento da infância.

 

Usei a crônica como um desdobramento da autobiografia ao pedir que mesclassem acontecimentos vivenciados com seu estilo pessoal. Havia liberdade de criação para, se quisessem, inserirem elementos fantásticos às suas crônicas. Por mais que tenha sido proposto, os alunos se ativeram às narrativas de suas vidas sem traços fantásticos. Na idade em que estão – no 9º ano geralmente estão com 14 ou 15 anos – um assunto sobressai: relacionamentos amorosos ou entre seus pares. Muitos descreveram em suas crônicas momentos de encontros com amigos ou amigas e namorados ou namoradas. Apresentei textos da cronista Martha Medeiros e muitas alunas gostaram de suas crônicas “Empatia” e “A pessoa certa”. Recebi o retorno de algumas que se emocionaram ao ler esta última, que trata de encontrar a pessoa certa em sua vida.

E nos últimos meses apresentei a eles o gênero entrevista. Embora conhecido, muitos não sabiam algumas definições ligadas ao gênero. Depois de conhecidas suas características, pedi como trabalho final que entrevistassem uma mulher da família. De início a intenção era que entrevistassem suas mães, mas dentro de um contexto em que existem diversas configurações de famílias, pedi que estendessem à mulher mais próxima de seu núcleo familiar. Por que fiz isso?

 

O projeto de conhecer o sujeito partiu do autoconhecimento para depois seguir para seus relacionamentos e culminar com a origem de tudo, que é a família. O resultado foi a meu contento? Nem todos quiseram participar do trabalho. Alguns alegaram que a mãe não pôde dar atenção; outros que não moravam com suas mães e não possuíam uma figura feminina a quem recorrer ou não quiseram. Todavia os trabalhos que recebi foram muito enriquecedores! A culminância deste projeto com a entrevista com as mães foi muito rica. Sugeri que fizessem a elas pelo menos cinco perguntas. Com receio de não conseguirem elaborar o que perguntar, coloquei no quadro algumas perguntas que indagavam desde a relação delas com o estudo a se achavam a mulher valorizada no mundo atual. A maioria dos alunos utilizou apenas as perguntas que passei. Outros elaboraram outras como “Se pudesse voltar no tempo o que diria ao seu eu mais jovem?” ou “Quais são seus elogios e reclamações da escola?”.

 

Obtive com esta entrevista respostas interessantes. Em alguns casos a própria mãe escreveu as respostas. Em outros, ao indagarem às mães sobre o estudo, receberam como resposta que não o haviam terminado. Contudo, destaco como mais importante a interação dos alunos e alunas com suas mães e o conhecimento que de repente não tinham de alguns aspectos de suas vidas.

A comunidade em que estamos inseridos traz desafios. E um dos maiores que percebi nestes cinco anos em que leciono na escola é o machismo que muitos alunos e alunas trazem de casa. Agressões à mulher fora e dentro da escola são comuns para certos alunos, e as agressões verbais são constantes. Conhecer o passado de suas mães e propor a elas questões sobre o papel da mulher na sociedade ou se são respeitadas no mundo atual pode trazer reflexões onde antes não havia.

Vejo que o papel da escola é este: podemos não mudar o mundo imediatamente, mas plantamos ideias-sementes para que o conhecimento (e o autoconhecimento) germinem em nossos alunos. Se alguns forem tocados por este trabalho, é um bom começo. E espero que num futuro próximo o adjetivo “boas” seja determinante da memória que construímos juntos no espaço escolar.

Este texto conta um pouco sobre alguns percursos pedagógicos utilizados pelas turmas do Programa de Aceleração de Estudos (PAE), que têm como objetivo proporcionar aos alunos que apresentam distorção idade/ano de escolaridade e demonstram dificuldades de aprendizagem com as metodologias do ensino regular, novas possibilidades de aprendizagem. Nesta visão, o Programa busca utilizar estratégias metodológicas diferenciadas para trabalhar os conteúdos de uma outra forma, levando em consideração a história de vida e análise global dos sujeitos nele inseridos.

Traremos duas experiências destas narrativas que estão sendo escritas, a partir de trabalho de campo por Inoã. A primeira é uma proposta de escrita de um jornal e a segunda, se refere a vivência nos espaços e a transformação destes achados, utilizando atividades de letramento e alfabetização.

Neste ano letivo, foram formadas duas turmas de aceleração, sendo estas: a PAE 21 com 23 alunos, que ainda não consolidaram o processo de alfabetização e a PAE 22 com 18 alunos, que começaram o processo de leitura, mas ainda precisam desenvolver competências e habilidades básicas para o uso social da escrita, e além da ampliação dos saberes de todas as disciplinas.

Um olhar de um Diretor humanizando

 

04 de dezembro de 2024

Fabiano Nogueira - Professor de Língua Portuguesa

Eu sou o professor Fabiano Nogueira e lecionei, neste ano letivo, as disciplinas de Português e Produção Textual na Escola Professor Darcy Ribeiro, em Inoã. Esta é a primeira escola em que trabalho no município desde que passei no concurso há cinco anos.

 

No começo deste ano alinhamos nosso Projeto Pedagógico sob o título: “Maricá, nossa história a gente escreve aqui: Narrativas no território de Inoã”.  Achei este tema interessante, pois sempre senti a necessidade de o aluno ter a sensação de pertencimento ao lugar em que está inserido. E acho que o fato de alguns dos alunos não se apropriarem do espaço faz com que não preservem este mesmo.

 

A tentativa de abrir esta discussão se mostrou importante então para tentar mudar determinados comportamentos que se apresentaram desde a volta da pandemia. Alguns dos nossos alunos possuíam comportamentos agressivos, pichavam paredes e carteiras, desacatavam professores e funcionários da escola. Ao abraçarmos este projeto queríamos chamar a atenção para o espaço que cerca nosso aluno e tentar fazê-los perceberem que são sujeitos de seu espaço e devem se apropriar dele. Do seu bairro e da escola inserida nele.

 

Nas aulas de produção textual comecei perguntando aos alunos sobre suas memórias em relação ao lugar. E obtive algumas respostas que inclusive me surpreenderam. Uma boa parte dos alunos não havia nascido em Inoã; outra parte não morava em Inoã; e, de ambas as partes, alguns alunos não possuíam boas memórias relativas ao lugar. Mesmo quando perguntei se algumas boas memórias não foram construídas na escola. O adjetivo “boas” para eles não se associa a escola.

 

Os dois primeiros grupos (os que não nasceram e os que não moravam) são compreensíveis. Em outros anos tive nas turmas alunos cujas famílias migraram de outras cidades do Rio de Janeiro, principalmente da Baixada Fluminense. E como Inoã se localiza na divisa com São Gonçalo, há alguns alunos que moram neste município mas vão estudar em Maricá.

 

Percebi então que meu desafio já começava com esta questão: como desenvolver o trabalho de narrativas do bairro se os alunos não pertenciam a ele? Resolvi partir de outro ponto:  se o que interessa é a relação do sujeito-aluno com o espaço a que pertence, primeiro quero conhecer esse sujeito.

 

Assim foi no decorrer do ano. Trabalhei com gêneros textuais que me proporcionariam a busca por conhecimento do meu aluno e autoconhecimento. Os primeiros gêneros trabalhados foram a biografia e a autobiografia.

Em seguida, trabalhamos com crônica e, por último, com entrevista.

 

Através das autobiografias pude perceber a relação dos meus alunos com suas memórias. Começamos com narrativas de pequenos momentos emocionantes de suas vidas para depois partir para episódios mais longos. Embora tenha sido um pouco difícil a compreensão do que é a narrativa de suas breves vidas, alguns episódios relatados foram bem curiosos, pois a maior parte deles se referia a algum momento da infância.

 

Usei a crônica como um desdobramento da autobiografia ao pedir que mesclassem acontecimentos vivenciados com seu estilo pessoal. Havia liberdade de criação para, se quisessem, inserirem elementos fantásticos às suas crônicas. Por mais que tenha sido proposto, os alunos se ativeram às narrativas de suas vidas sem traços fantásticos. Na idade em que estão – no 9º ano geralmente estão com 14 ou 15 anos – um assunto sobressai: relacionamentos amorosos ou entre seus pares. Muitos descreveram em suas crônicas momentos de encontros com amigos ou amigas e namorados ou namoradas. Apresentei textos da cronista Martha Medeiros e muitas alunas gostaram de suas crônicas “Empatia” e “A pessoa certa”. Recebi o retorno de algumas que se emocionaram ao ler esta última, que trata de encontrar a pessoa certa em sua vida.

 

E nos últimos meses apresentei a eles o gênero entrevista. Embora conhecido, muitos não sabiam algumas definições ligadas ao gênero. Depois de conhecidas suas características, pedi como trabalho final que entrevistassem uma mulher da família. De início a intenção era que entrevistassem suas mães, mas dentro de um contexto em que existem diversas configurações de famílias, pedi que estendessem à mulher mais próxima de seu núcleo familiar. Por que fiz isso?

 

O projeto de conhecer o sujeito partiu do autoconhecimento para depois seguir para seus relacionamentos e culminar com a origem de tudo, que é a família. O resultado foi a meu contento? Nem todos quiseram participar do trabalho. Alguns alegaram que a mãe não pôde dar atenção; outros que não moravam com suas mães e não possuíam uma figura feminina a quem recorrer ou não quiseram. Todavia os trabalhos que recebi foram muito enriquecedores! A culminância deste projeto com a entrevista com as mães foi muito rica. Sugeri que fizessem a elas pelo menos cinco perguntas. Com receio de não conseguirem elaborar o que perguntar, coloquei no quadro algumas perguntas que indagavam desde a relação delas com o estudo a se achavam a mulher valorizada no mundo atual. A maioria dos alunos utilizou apenas as perguntas que passei. Outros elaboraram outras como “Se pudesse voltar no tempo o que diria ao seu eu mais jovem?” ou “Quais são seus elogios e reclamações da escola?”.

 

Obtive com esta entrevista respostas interessantes. Em alguns casos a própria mãe escreveu as respostas. Em outros, ao indagarem às mães sobre o estudo, receberam como resposta que não o haviam terminado. Contudo, destaco como mais importante a interação dos alunos e alunas com suas mães e o conhecimento que de repente não tinham de alguns aspectos de suas vidas.

 

A comunidade em que estamos inseridos traz desafios. E um dos maiores que percebi nestes cinco anos em que leciono na escola é o machismo que muitos alunos e alunas trazem de casa. Agressões à mulher fora e dentro da escola são comuns para certos alunos, e as agressões verbais são constantes. Conhecer o passado de suas mães e propor a elas questões sobre o papel da mulher na sociedade ou se são respeitadas no mundo atual pode trazer reflexões onde antes não havia.

 

Vejo que o papel da escola é este: podemos não mudar o mundo imediatamente, mas plantamos ideias-sementes para que o conhecimento (e o autoconhecimento) germinem em nossos alunos. Se alguns forem tocados por este trabalho, é um bom começo. E espero que num futuro próximo o adjetivo “boas” seja determinante da memória que construímos juntos no espaço escolar.


Um olhar de um Diretor humanizando
 

A Segunda Experiência

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Eixo IV – Sociedade, Cultura  e Tecnologia

A Segunda Experiência

Precisamos educar para compreensão. E isso significa não educar “para o futuro”, mas para as demandas do presente, um ensino da interpretação como parte central do currículo que foque na reflexão crítica das representações da escola como geradora de cultura, e não só de aprendizagem de conteúdo.

Começamos refletindo que o lugar da sala não: é só de aula. O diálogo deve ser central antes de qualquer proposta de atividade. Na exposição oral e no diálogo com os estudantes, não devem ser ignoradas suas questões e interações “próprias”, mesmo que não tenham relação direta com o conteúdo curricular. A sala é de produção de conhecimento e de interpretação do mundo, o conteúdo curricular é apenas um meio, e não objetivo final. Algumas questões são fundamentais: Qual objetivo de aprendizagem da sua aula? Qual é seu tema transversal? E eles podem se tornar um grande motivador para construção de aprendizagem, crescimento pessoal e intelectual dos alunos?

E como trabalhar as práticas pedagógicas de modo a propiciar a sala de aula como este espaço multidisciplinar, atrativo, afetivo e de forma a recuperar o prazer pelo estudo/desempenho dos conteúdos acumulados historicamente? Algumas intervenções seriam atividades que possibilitem: viabilizar produções artesanais, coletivas e lúdicas, uma escola geradora de cultura, e não só de aprendizagem de conteúdos, aproveitar o interesse das crianças e adolescentes (conjunto de valores, crenças e significações que dão sentido ao mundo em que vivem), estimular experimentações, formas, texturas, sons, participação ativa e coletiva, jogos, artes e demonstrações que utilizem o corpo como suporte (corpo como um todo, sem separação mente e corpo) em diversas performances.

O lugar fora da sala escolhido para ser retratado aqui foi o trabalho de campo feito nos arredores da escola para que os alunos conhecessem um pouco mais da realidade de Inoã.  Foi utilizada uma pesquisa etnográfica, a partir dos debates gerados nas aulas, em entrevistas dentro e fora da escola. Isso permitiu que os alunos refletissem e reconhecessem diferentes pontos de vista acerca do tema.

Foi seguida a ordem abaixo:

Passo 1 - saída à campo pela comunidade do entorno para pesquisá-la. Conhecer o universo vocabular das pessoas entrevistando-as. Gravar as palavras que aparecem mais. Anotar os temas geradores: Quais são as questões, o que mais está preocupando e ocupando a mente das pessoas na comunidade? Sair pela comunidade e gravar as palavras que aparecem mais: O que é importante para você? O que está te preocupando atualmente?

Passo 2 - Tirar fotos e filmar a paisagem do lugar da comunidade escolar e do seu entorno: natureza, prédio, comércios, etc. Investigar também a paisagem oculta.

Passo 3 - Investigar os nomes das ruas do território, dos lugares próximos e da própria escola.

As práticas ativas de ensino nos eixos da educação integral oferecem aos alunos uma gama de oportunidades de aprendizagem. Os alunos são preparados para os desafios futuros quando desenvolvem habilidades como pensamentos críticos, resolução de problemas, colaboração e comunicação.

 

A Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro ao adotar o programa de educação em tempo integral desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos alunos, proporcionando uma abordagem educacional abrangente que visa não apenas o sucesso acadêmico, mas também o desenvolvimento pessoal e socioemocional. Ao promover um ambiente de aprendizagem estimulante e envolvente, a educação integral prepara os alunos para enfrentar os desafios do mundo moderno.

 

Na oficina de tecnologia também são desenvolvidos podcasts escolares, onde alunos e convidados produzem conteúdos e são desafiados a criarem roteiros e narrarem as histórias de forma semanal. O objetivo é que além de produção de tecnologia, que os alunos trabalhem a funcionalidade do texto e imagem como forma de comunicação com a comunidade escolar e com o mundo.

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